ONDE ESTÁ ERRADO E PRESIDENTE LULA

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ONDE ESTÁ ERRADO E PRESIDENTE LULA

 

João Paulo de Almeida Magalhães

 

O Presidente Lula tem toda razão de estar satisfeito com o elevado nível de aceitação que lhe é atribuído pelas recentes pesquisas de opinião. Isto, todavia, apenas torna mais graves alguns erros que vem cometendo.

O primeiro deles se refere à aplicação da renda a ser gerada pela exploração petrolífera no pré-sal. Afirma ele, que estas serão utilizadas em grandes projetos sociais na área de saúde, ensino, saneamento básico e outras medidas em benefício das camadas mais pobres da população. Sucede apenas que a boa análise econômica mostra deverem os ganhos da exploração de recursos naturais não renováveis ser utilizados dentro da perspectiva de longo prazo. Ou seja, empregados para colocar o país na trilha do crescimento rápido e sustentado evitando que, ao se esgotarem as reservas de recursos naturais, a economia entre em grave e inevitável colapso. E, quanto mais tempo durarem as reservas, mais grave será esse colapso. Parece ser desnecessário lembrar que o excessivo otimismo gerado pela descoberta de grandes reservas de recursos naturais pode levar ao esvaziamento de setores econômicos, mais refinados e de crescimento mais rápido e permanente. É a chamada "doença holandesa".

O segundo erro foi expresso na declaração do Presidente de que acabou a era dos economistas e tem início a dos engenheiros. Significa isso deixar de lado o fato simples de que as duas atividades são estritamente complementares. Assim, o engenheiro sabe como construir usinas hidro-elétricas. Cabe porém ao economista, no contexto de avaliação econômica de projetos, verificar se existe realmente demanda que justifique os grandes gastos previstos, qual a melhor localização do empreendimento, quais as técnicas de construção e operação que maximizam a relação benefícios/custos etc. No contexto da avaliação social de projetos, o economista levará em conta o custo epresentado pela retirada da população das áreas a serem inundadas, o impacto negativo das obras sobre o meio ambiente e a forma mais econômica de minimizar esse impacto. Nada disso é tarefa do engenheiro. Erro típico do engenheiro, desassistido de economistas, é lançar mão das técnicas mais avançadas disponíveis, sem levar em conta que técnicas mais elementares oferecem maior relação benefícios/custos, em países subdesenvolvidos.

Possivelmente, por considerar que o país está atravessando fase de excepcional prosperidade, o Presidente ache que os dois pontos acima podem ser considerados irrelevantes. Novamente aqui um bom assessor econômico lhe informará que, se seu segundo mandato vem oferecendo resultados e permitindo prognósticos bem superiores aos do primeiro, ainda assim, estes estão longe de serem satisfatórios. Nos trinta anos seguintes à Segunda Guerra Mundial o país cresceu à taxa anual média de7% e, segundo trabalhos recentes, nos 80 primeiros anos do século passado, o crescimento da economia brasileira só foi superado pelo do Japão. Nas economias emergentes asiáticas a taxa de crescimento se coloca freqüentemente acima de 9%.

Ora, as previsões mais otimistas colocam em apenas 5% o incremento anual do PIB no segundo mandato do Presidente Lula. Inexiste, portanto, qualquer razão de considerarirrelevantes os dois erros acima referidos.

Em um de seus artigos, o cientista político Hélio Jaguaribe afirmou que o Presidente Lula é um homem muito inteligente e bem intencionado. No que está correto. Mas deveria ter acrescentado que não está prestando a devida atenção ao melhor de sua assessoria econômica.

 

Presidente do CORECON- RJ