OBAMA E A CRISE ECONÔMICA - REINALDO GONÇALVES

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Reinaldo Gonçalves
Professor titular de Economia UFRJ

 

O pacote econômico que Barack Obama apresentou imediatamente após a posse é essencialmente um New Deal, ou seja, são medidas de aumento de gastos públicos e de redução de impostos. Cabe notar que este tipo de política tem fôlego curto. Durante os anos 30 do século passado o New Deal não logrou tirar a economia estadunidense da crise econômica que eclodiu em 1929. A crise econômica foi resolvida com a II Guerra Mundial: inicialmente, os Estados Unidos venderam equipamentos militares e, a partir de 1941, entraram diretamente na guerra. A solução para graves crises econômicas não é tíquete-alimentação ou "abrir-e-fechar buraco" segundo a visão dos keynesianos e dos conservadores (o que é mais ou menos a mesma coisa). Portanto, o pacote de Obama (à la New Deal) é convencional e conservador e só mitigará os efeitos da crise econômica, sem resolvê-la.

 

A criação de 3 milhões de empregos até 2011, promessa de Obama, investindo em infra-estrutura e modernização de escolas, depende de uma série de fatores: volume de recursos despendidos pelo governo; conjunto de outras medidas mais estruturantes; reversão das expectativas do setor privado estadunidense; nível de confiança dos consumidores; e desempenho do resto da economia mundial. Na visão otimista os Estados Unidos sairão da crise no horizonte 2010-11. Penso, inclusive, que os Estados Unidos sairão da crise bem antes do Brasil.

 

Neste sentido, vale mencionar que as medidas recentes do governo Obama para proteger a indústria norte-americana geraram reações da União Européia e de governos da América Latina, entre eles o do Brasil. Entretanto, estas são medidas corretas. Em tempo de crise são necessárias medidas protecionistas, ou seja, é tempo de "farinha pouca, meu pirão primeiro". Os europeus logo começarão a implementar medidas protecionistas. Somente o Governo Lula – que aprofunda um modelo liberal periférico de terceira classe – é que continua firme nas medidas de liberalização e desregulamentação, conforme mostrei em meu livro, em co-autoria com Luiz Filgueiras (A Economia Política do Governo Lula, Editora Contraponto).

 

As choraminguelas de Lula e dos diplomatas brasileiros não têm o menor impacto. Na América Latina, o que incomoda aos Estados Unidos são os governos com projetos de orientação socialista (Venezuela, Equador e Bolívia), bem como governos com preocupação de gerar maior grau de liberdade nas políticas nacionais (Argentina e, quem sabe, Paraguai). O restante dos países da região (inclusive, os dois maiores, Brasil e México) os governos têm sido dóceis.

 

O baixo preço do petróleo reduz significativamente o "poder de fogo" da Venezuela, Bolívia e Equador. A Argentina deve manter perfil baixo no horizonte previsível, enquanto a docilidade do México e do Brasil não será alterada nos próximos anos, principalmente porque estes dois países manterão trajetórias de crescente vulnerabilidade externa estrutural. O governo Lula tem sido parceiro dos Estados Unidos na Organização Mundial do Comércio, o que contrariou a grande maioria dos países em desenvolvimento na última reunião em Genebra, o que praticamente, implodiu o G-20. Ademais, Obama deve achar estranho, mas ao mesmo tempo, "adora" que o governo Lula – via Tesouro e BNDES – use os escassos e caros recursos nacionais para financiar as filiais de empresas estadunidenses que atuam no Brasil, e que continuarão enviando bilhões de dólares para as suas matrizes.