CORRETAS AS MUDANÇAS NO BB, AGORA FALTA O BANCO CENTRAL - CARLOS HENRIQUE TIBIRIÇÁ MIRANDA

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Carlos Henrique Tibiriçá Miranda*

 

Foi correta a mudança operada no Banco do Brasil para fazê-lo cumprir seu papel de banco público. O governo "precisa dar um empurrãozinho" para que os bancos estatais baixem suas taxas; se pedir muita licença, os bancos não vão baixar os juros. Resta ao governo alterar as políticas recessivas do Banco Central, inclusive mudando sua direção.

 

O governo brasileiro usando de suas atribuições, substituiu o presidente do Banco do Brasil, alegando buscar uma gestão comprometida com o desenvolvimento nacional a geração de emprego e a distribuição de renda no país.

 

 

 

Manipulação contábil grosseira

 

O novo presidente, Aldemir Bendine, em entrevista, afirmou que o BB terá uma atuação mais agressiva com o objetivo de ganhar participação no mercado.. E que esta política faz parte do contrato de gestão assumido com o ministro da Fazenda. Uma atuação que colaborará para o destravamento do crédito no país, desejo do controlador majoritário do banco que é a União.

 

Este ato foi o suficiente para que a grande mídia, comprometida com teorias que levaram o mundo à crise que vivemos, deflagrasse verdadeira cruzada contra o governo. Partem da busca de uma pauta permanentemente negativa e abriram matérias e editoriais para combater as mudanças.

 

Numa manipulação contábil grosseira, que já tinha sido feita para afirmar que a Vale privatizada valia mais que a Petrobras, que mantivemos estatal apesar da abertura de capital, O Globo destacou em manchete, que "a mudança de presidente faz BB perder R$ 5bi em dois dias" isso a partir do "mercado de ações".

 

Fazem isso tudo para impedir que o BB, a Caixa e o BNDES sejam instrumentos públicos a favor da maioria dos brasileiros. Têm saudades do período em que o BNDES era usado para viabilizar as suspeitas privatizações no país. Tal chantagem e terrorismo é comparável com o chamado "risco Lula" que criaram quando já era iminente a vitória deste e a derrota do condomínio tucano/pefelista em 2002. Vale lembrar que empresas privadas qualificadas como sólidas, nos EUA e Brasil, pelas ditas "agências de risco", dissolveram-se no ar.

 

Afirmam que a fórmula é salvacionista, que técnicamente é uma intervenção inadequada e apontam fórmulas para promover a queda dos juros e spreads afastando o uso dos bancos públicos desta tarefa. Sugerem mais uma vez o corte dos gastos de custeio, para com isso reduzir a dívida interna, e por tabela, o custo dos juros. Por ideologia e compromisso com a minoria rentista no pais, não dizem que a última redução da taxa Selic pelo Copom, ainda que insuficiente, correspondeu a uma economia praticamente correspondente ao programa Bolsa Família no ano inteiro. Por estes articulistas e senhores da mídia, o Brasil teria se desfeito dos Bancos Públicos, nos processos das privatizações.

 

Por termos impedido estes intentos, hoje o BNDES é o segundo banco de fomento em importância no mundo e o Brasil conta com o BB e a Caixa para elaboração de políticas públicas, a favor do desenvolvimento. Nos EUA, intervenções estatais são feitas para salvar empresas financeiras com o sofisma de "nacionalização" ou "pré privatização". Aqui, segundo estes setores, o governo não pode mudar o presidente do BB, onde é majoritário.

 

 

 

Segundo mais alto entre 72 países

 

Temos ainda, a maior taxa básica real de juros do mundo, a Selic. Isso quando vários países praticam juros negativos para fazer frente à crise. Convivemos com enormes "superávits primários", verdadeiras reservas para remunerar os rentistas, que funcionam como entraves ao desenvolvimento e à busca de saídas à crise. Estudos citados na última Carta do Ibre da Fundação Getúlio Vargas (FGV), mostram que o spread no Brasil é o segundo mais alto numa amostra de 72 países.

 

O título desta Carta é Spread bancário no Brasil: nem todas as armas foram usadas; e na conclusão ela afirma: "A idéia de envolver a Caixa no esforço para reduzir os spreads no Brasil pode ser ousada, mas o arrojo, com racionalidade, pode às vezes ser a melhor resposta a distorções que se mostrem muito difíceis de corrigir pelos métodos convencionais". Tendo sido divulgada dias antes da "crise" da mudança no comando do BB, a Carta ajuda a entender, pela palavra de uma instituição respeitada e insuspeita, a FGV, a possibilidade de ações via bancos públicos na busca da diminuição dos escorchantes spreads.

 

Como afirma Julio Gomes de Almeida, da Unicamp e do Iedi o governo "precisa dar um empurrãozinho" para que os bancos estatais baixem suas taxas; se pedir muita licença, os bancos não vão baixar os juros.

 

 

 

Querem repassar a conta da crise

 

Os apologistas do "livre mercado" têm que entender a gravidade da crise que esta política levou aos quatro cantos do planeta. Defendiam o "Estado mínimo" e agora recorrem e dependem da intervenção estatal para retirar a humanidade do descalabro. Querem repassar a conta da crise aos trabalhadores e o povo que não são responsáveis por esta. Os governos devem condicionar o aporte de recursos e de intervenção pública à aplicação de políticas desenvolvimentistas de longo prazo.

 

Estudo do Ipea (Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas), de 7 de abril, aponta a existência de um sistema concentrado e desigual. E que a taxa de juros real praticada aqui a pessoas físicas é até dez vezes maior que nas matrrizes destes mesmos bancos. O estudo mostra que a participação dos 20 maiores bancos em operação no Brasil saltou, entre 1996 e 2007, de 72% para 86% dos ativos bancários. E que 505 municípios brasileiros não têm uma agência de instituições financeiras. Diz também que, o número de bancos caiu de 230 para 156, refletindo a redução da presença de bancos públicos, que passaram de 32 para 13.

 

Diante deste quadro, foi correta a mudança operada no Banco do Brasil para fazê-lo cumprir seu papel de banco público. Resta ao governo alterar as políticas recessivas do Banco Central, inclusive mudando sua direção.

 

* Conselheiro do Corecon-RJ e Cofecon (Conselhos Regional e Federal de Economia)