O problema é que a história do lulismo não é linear. Ziguezagueia da esquerda para o centro, do centro para a direita e volta ao centro-esquerda, na crise-mundial de 2008/2009.
Esse ziguezaque, ao menos no território da economia, é mais adequadamente capturado em "Os Anos Lula" (Garamond, 424 págs, R$ 35), editado pela Garamond, por iniciativa dos economistas do Rio de Janeiro reunidos no Conselho Regional de Economia, no Sindicato dos Economistas e no Centro de Estudos para o Desenvolvimento.
Este, sim, contém o espírito crítico reclamado por Marco Aurélio Garcia. Até no subtítulo, que é "Contribuições para um balanço crítico 2003/2010". São 25 autores, o que tem a vantagem do pluralismo e a desvantagem de uma certa dispersão de enfoques. Na apresentação, Paulo Passarinho, ex-presidente do Conselho Regional de Economia, enfatiza com precisão e firmeza o papel que os intelectuais deveriam desempenhar.
"Nossa pretensão foi procurar nos reportar ao que experimentamos ao longo desses quase oito anos de governo, dentro de uma visão crítica e independente e a partir de premissas políticas e proposições que sempre julgamos mais adequada ao país, e das quais jamais abrimos mão".
Emenda:"Com isso, queremos também reafirmar que não compactuamos e não concordamos com qualquer tipo de silêncio (palavra grifada no original), ou perplexidade, ante os aparentes paradoxos que o mundo da política nos reserva.
(...) Queremos explicitamente resistir às tentações de compatibilizar o necessário e permanente exercício da crítica às conveniências e interesses políticos de ocasião".
É uma bela definição, que permeia os diversos textos.
Clóvis Rossi – Folha de São Paulo – 16.01.11