Bruno Leonardo Barth Sobral é economista, obteve o 1º lugar no XVIII Prêmio Brasil de Economia de 2012 e autor do livro "Metrópole do Rio e projeto nacional. Uma estratégia de desenvolvimento a partir de complexos e centralidades no território", publicado pela Editora Garamond.
RESENHA
O fortalecimento da economia fluminense depende que seja enfrentada a problemática (des)articulação de seu sistema produtivo regional. Portanto, não é questão de falta de vocações ou reinvenção de uma trajetória, ao contrário, trata-se da ausência de uma estratégia de industrialização diante da perda de um projeto nacional e dos limites colocados pela dominância do grande capital mercantil. Lembrando que entende-se por industrialização não o mero avanço de setores industriais, mas a consolidação de uma base de acumulação intersetorial ágil e diversificada que possui na diferenciação do aparelho produtivo o elemento motor para alcançar dinamismo próprio.
O trabalho discute o papel de grandes investimentos na periferia da Região Metropolitana do Rio de Janeiro e a capacidade de formação de novas centralidades econômicas organizadoras de um espaço metropolitano dinâmico. Diante das intersetorialidades e assimetrias competitivas, investiga-se as oportunidades e os desafios para a consolidação de complexos logístico-produtivos. Nessa perspectiva, ganha evidência a carência de uma maior coordenação política, e o estudo busca servir de ponto de partida para um debate mais amplo sobre a estrutura de planejamento a ser fortalecida.
O trabalho apresenta um quadro de referência dos principais determinantes (teóricos, macrosetoriais e históricos) e, posteriormente, analisa os problemas concretos da dinâmica recente fluminense através de um diagnóstico estrutural e um balanço daquele ciclo de investimentos na periferia da RMRJ. Nesse sentido, questiona-se uma suposta inflexão econômica positiva associada a uma interiorização econômica. Inversamente, alerta-se sobre uma tendência para a confirmação de uma "estrutura oca", com amplos vazios produtivos diante da macrocefalia metropolitana.
O recente ciclo de grandes investimentos não indica sinais de resistência a crise estrutural brasileira (marcada pela interrupção do projeto nacional e do processo de industrialização). Seus elementos de dinamização são desdobramentos da própria crise, estando ligados a uma especialização da base produtiva em poucos produtores de commodities/bens intermediários e uma reprimarização da pauta exportadora fluminense.
É preciso ter claro que a questão regional e urbana do Rio de janeiro envolve uma poderosa centralidade nacional com uma limitada divisão regional do trabalho sob seu comando. Por essa razão, recuperar o protagonismo nacional e buscar uma maior orientação produtiva são objetivos que devem ser tratados conjuntamente. Nesses termos, a economia do Rio de Janeiro tem condições de se tornar o epicentro de um renovado projeto nacional na medida que "puxe" a industrialização a partir da Economia do Petróleo, conforme estratégia discutida no trabalho.
Lutar pelo desenvolvimento do Rio de Janeiro é lutar pelo desenvolvimento do país. Essa dimensão de protagonismo que se perdeu deixando de ser capital federal e que sempre faltou articular com um lógica de desenvolvimento regional através da consolidação de complexos logístico-produtivos. Convida-se a todos interessados a ler a obra e pensar esse desafio.